Estava eu sentado no meu sofá ver televisão. Programa interessante, sobre o Abominável homem das neves…
Se em Portugal houvesse um, onde estaria?
Sei lá! Talvez…
Olha que boa desculpa para fazer uma caminhada!!!
Passei discretamente a mensagem e corajosos á partida, nada mais, nada menos que:
Eu, claro.
A Sónia, pois. Sem ela que faria eu?
O Sadi também. Não falha uma.
E em caso de encontro com o Abominável, poderia fazer jeito sermos 3.
E se fossemos 5? Uma mão cheia?
Ora já cá canta o Jorge e a Liliana.
E onde poderia estar escondido o dito cujo?
Muito provavelmente na Serra da Estrela, o sitio com mais neve de Portugal.
Vai dai fomos para o Gerês, já para evitar ter mesmo um encontro imediato com o bicho!!!
Dia 17 de Janeiro, depois de Portugal inteiro ter passado por uma idade do gelo, o sol tinha feito as pazes e voltado.
Dia ideal. E aí fomos, felizes e friorentos.
Como manda a tradição fomos fazer o trilho dos Carris, em direcção ás ruínas das minas.
Foto de grupo e botas ao caminho.
De repente silencio! O pânico estava instalado. Era mesmo o abominável que andava ali!!!!!
Quer dizer, vendo melhor era assim mais um garrano… Mais uma vez eles ai estavam a saudar-nos numa boa caminhada.
Toca a continuar. Na nossa curva favorita (pelo menos minha), o nosso pedregulho de estimação lá estava para nos cumprimentar. Do nosso lado tínhamos uma linda cascata e para trás de nós uma vista de cortar a respiração.
De repente, ainda estávamos com estas paisagens nos olhos e uma observação mais atenta trazia-nos uma nova e boa surpresa.
Não, ainda não era o Abominável, mas algo melhor…
Num monte mesmo á nossa frente, NEVE!
A coisa estava a ficar cada vez melhor. Avançamos com força redobradas. Nem o abominável nos faria desistir. Aos poucos, as pedras do caminho começaram também elas a ficar com neve.
E se ao princípio eram uns flocos, rapidamente a progressão se tornou difícil. Já caminhávamos nuns bons 20 cm de neve. Nesta altura o Jorge e a Liliana, já estavam bastante arrependidos de não ter botas em Gore-tex, aquela tecnologia fantástica que não deixa entrar água.
O frio e a água juntaram-se para criar obras de arte naquelas pequenas quedas de água que acompanham sempre o caminho.
A dada altura, já esquecidos do abominável, eis que, mesmo à nossa frente, aparece um estranho trilho de pegadas… fomos ver e verificar.
Pânico! Afinal ele existe e andava ali.
Logo fiquei em posição de defesa e observação enquanto o Sadi batia os arredores. As pegadas estavam ali, mas e ele? Onde estava?
O Sadi com a emoção resolveu literalmente “meter a pata na poça”. E se o gore-tex não deixa entrar água, o mesmo não se pode dizer da parte de cima da bota, principalmente se tivermos com água até aos tornozelos…
Uma casinha… mmm... Entramos de rompante, qual brigada de intervenção! Mas e o abominável, onde está?
Nada, alarme falso.
Continuamos sempre alerta e eis-nos chegados ao nosso objectivo, as minas, que estavam como nunca as tinha visto…
Cheio de coragem, avancei!
-"Abominável anda cá se és um Homem, quer dizer Bicho, ou melhor… o que quiseres!"
Sadi de um lado, Sónia do outro e nada!
Se calhar ele não existe…
Demos a zona como livre de perigo e lá vieram o Jorge e a Liliana.Como o tempo estava a escassear, não podemos ver as ruínas como elas mereciam.
Tomamos o nosso reforço alimentar e o café (ritual que se tornou indispensável) e retomamos o caminho de volta, não sem antes gravarmos na nossa memória mais algumas imagens deste local. Quando o conseguiríamos voltar a ver assim?
E ainda nos faltava uma surpresa!!!
Não, nunca conseguimos ver o Abominável… se ele existe, ou tinha ido passar o fim-de-semana fora ou então está mesmo na Serra da Estrela.
A nossa aventura acabou com uma caminhada nocturna. Muito depressa ficou noite, o que nos obrigou ao uso dos frontais e a uma ponta final escura como breu. E ai sim, todos nós já víamos abominais por todo lado. Até ajudou a acelerar o passo… e os tropeções… e os ramos na cara, pois!!!
Chegados ao carro, desde alegria imensa até cansaço extremo, vimos de tudo.
De facto um estranho trilho de pegadas apareceu-nos desde o meio do caminho e até as minas.
Esta é uma zona de lobos, que muito dificilmente se conseguem e deixam ver.
As pegadas até poderiam ser de um cão, mas as nossas eram as primeiras de homens…
E quando se pesquisa sobre lobos no Gerês, a opinião é unânime, é mais fácil ver os seus vestígios do que OS ver…
Eu vou ficar a pensar que esta aventura foi a que mais perto me deixou de um lobo selvagem… e já abusando, talvez não os tenha visto… Mas eles me tenham visto a mim…
E quem sabe na próxima encontramos mesmo o Abominável.
Esta caminhada é dedicada à "Cláudia Abominável das Neves", onde fui buscar a inspiração para escrever... A minha sorte é que ela nunca na vida vai ler este Blogue... e descansem que ela nem morde, nem está coberta de pelos. É uma jovem feliz que se chama das neves... ou abominável!
Obrigado Menina!:-)
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